quarta-feira, outubro 18, 2006

Pia do Urso - Uma aldeia a ressuscitar


















Pia do Urso é uma pequena aldeia localizada a 10 kms de Fátima e 17 da Batalha, na freguesia de S. Mamede.

Ainda há pouco, estava destinada a ser apenas mais uma das aldeias desertificadas do não tão interior assim (vivem actualmente na povoação 7 pessoas); hoje, respira vida, beleza e deixa antever um futuro promissor.

Através de parcerias público-privadas, toda a aldeia está a ser alvo de um processo de recuperação, que passa também pela construção, ali, do primeiro ecoparque sensorial do país e um dos primeiros da Europa preparados para cegos.

A recuperação da Pia do Urso começou há cerca de três anos, com o início da reconstrução das casas levada a cabo por particulares com o apoio do programa Agris do Ministério da Agricultura

http://www.ifadap.min-agricultura.pt/ifadap/incentivos/agris/mainAGRIS.html.
A intervenção teve ainda uma componente de investimento público para as infraestruturas do espaço e a criação do ecoparque sensorial.

O (pouco) alcatrão das ruas e ruelas foi substituído por calçada e as habitações degradadas foram arquitectonicamente recuperadas, dando um ar muito típico e acolhedor a toda a envolvente. As casas desabitadas agora recuperadas vão ser convertidas em alojamento para turismo rural.

Na parte mais elevada da aldeia, desenvolve-se o parque sensorial, que procura “casar a natureza, com a madeira e pedra” e criar um “espírito mágico, onde as pessoas possam beber sons e cheiros” (…) O ecopoparque é enriquecido com representações gráficas, que (…) facilitam a apreensão da informação, quer aos invisuais quer aos normais visuais”.

Especialmente a pensar nos cegos, existem vários painéis em Braille e em baixa visão, explicando cada estação. A aproximação a esses locais é assinalada no chão, recorrendo a um pavimento diferente e a um pequeno corrimão com placas em Braille, informando o visitante do local onde está. A zona central do trilho principal do percurso é feita com uma textura própria, para facilitar a circulação dos invisuais.

O percurso, todo ele com iluminação, está povoado com imagens de animais em tamanho real (porcos, porcos, patos, burros, etc). Foram ainda postas a descoberto 26 pias que existiam no local, mas que se encontravam cheias de silvas.

Estruturas do ecoparque:
Estação do planetário – apresenta as várias fases da lua e descreve o sistema solar Estação do ciclo da água – composta por uma nora e um engenho que recriam o princípio da energia Estação do jurássico – é uma alegoria ao período dos dinossauros
Estação da alegoria – representa a marcha das tropas de D. Nuno Alvares Pereira entre Ourém e Porto de Mós, na véspera da Batalha de Aljubarota, com passagem pela Pia do Urso
Estação lúdica – com um puzzle ‘gigante’ em madeira e jogos
Estação da Pia do Urso – composta pela pia onde, segundo a lenda, iria beber um urso que vivia nas redondezas da aldeia e que deu origem ao nome da povoação
Pia do amor – composta por uma pia que tem a configuração natural de um coração
Estação musical – com diversos dispositivos musicais (gongo, xilofone, cabaça, castanholas, etc)
E ainda: Parque infantil, Miradouro, Parque de estacionamento para automóveis e autocarros (localizado à entrada do parque), Casas de banho, Chafariz, Centro de interpretação (a concluir dentro de quatro meses) e
Posto de informação.

Mais informação e fontes para este post:
http://www.cm-batalha.pt/index.php?pagina=turismo&area=pia_urso
http://www.jornaldagolpilheira.com/063/pia_do_urso.htm
http://www.jornaldeleiria.pt/index.php?article=7388&visual=-1&id=0&print_article=1&layout=29


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Em resposta à questão colocada num dos comentários a este artigo, e depois de uma nova incursão à Pia do Urso, eis o poema da Pia do Amor:


NESTE LUGAR DE MIL SEGREDOS



Aqui te amo…
Neste lugar que encerra mil segredos.
Aqui te espero,
Quando a noite enche e começa a cantar-me.

Aqui neste lugar,
De mil promessas cumpridas,
Onde a luz faz girar sua arruela de sonho,
Olham-me os teus olhos, estrelas maiores.

E como eu te amo…
Neste lugar,
As árvores murmurando ao vento,
Querem cantar nosso amor!

Aqui neste lugar,
O nosso porto…
Que em vão oculta o horizonte,
Estou a amar-te ainda entre o anoitecer.

Trocamos carícias,
Sob o capricho da tua voz mansa…
Até sempre…
Chegar nosso esplendor.

CC

quarta-feira, outubro 11, 2006

Contornar o incontornável



Nota inicial: este post não pretende estar directamente ligado ao post anterior, embora seja comum o tema H2O.

Lá longe, muito longe, na África subsariana árida e deserta, onde não chega ponta de desenvolvimento e a questão da interioridade nem se coloca, não há água em muitas povoações; nem canalizada, nem da Selda ou da Fonte Viva, nem do Luso… simplesmente não há água.

Lá, as pessoas deslocam-se imensidões de Kms para ir buscar um barril de água, que depois transportam à cabeça ou às costas, tarefa que é normalmente atribuída a mulheres e crianças, desviando-as de outras actividades produtivas e da escola, respectivamente, uma vez que esta actividade monopoliza o seu dia-a-dia.

A água recolhe-se em rios, valas, ou poços e as torneiras são muitas vezes uma daquelas bombas de mão que quase só já vemos nos filmes… requerem esforço, são lentas (cerca de 10 minutos para conseguir 25 litros de água) e têm uma água que não raro, azar dos azares, até está inquinada e dará origem depois de todo o esforço, a diversas doenças como diarreia, cólera, febre tifóide e potencialmente à morte.

Poderiam ser utilizadas bombas a combustível, mas este é tão caro e as populações tão frágeis economicamente que tal não é plausível.

Face a todas estas dificuldades, a Roundabout Outdoor, uma companhia Sul-africana, introduziu uma solução auto-sustentável e inovadora para o problema de bombear a água: o PlayPump WaterSystem, ou bomba de água - carrocel.

Em que consiste? Coloca-se um carrocel movido por crianças, semelhante às vulgares rodas de cavalinhos que encontramos nos parques infantis, e a energia gerada por esse movimento é canalizada para bombear a água que por sua vez é encaminhada para um grande tanque alto e fechado. Quando as famílias precisam de água do tanque, basta-lhes abrir uma torneira por baixo do mesmo.

E o que muda com isto?
-as crianças podem dedicar mais o seu tempo à escola e ganham um equipamento de diversão;


- as mulheres ocupam o seu tempo com tarefas produtivas, que vão desde o cuidar da família à criação de artesanato, agricultura, pecuária;

- a população fica com água potável perto de casa com muito menos esforço, e é até possível iniciar pequenas explorações agrícolas e pecuárias;

- diversifica-se a alimentação, que se fazia à base de farinha de milho e passa a conter vegetais, havendo ganhos na nutrição e na saúde;

- a implementação de novos hábitos de higiene diminui razoavelmente a incidência de inúmeras doenças;

- o tanque torna-se num forte e inusitado suporte de dois tipos de informação: publicidade e informação relacionada com a educação e a saúde; os dividendos resultantes da publicidade são utilizados na manutenção do sistema.



As Nações Unidas declararam os próximos 10 anos a Década Internacional da acção “Água para a Vida”, com o objectivo de chamar a atenção para esta eminente questão.


Mais informação:
https://www.givengain.com/unique/playpumps/docs/profile.pdf#search=%22Boikarabelo%20playpumps%22
http://en.wikipedia.org/wiki/Roundabout_PlayPump
http://www.stepin.org/casestudy.php?id=playpumps&page=2



“A imaginação é mais importante que o conhecimento”
Albert Einstein