Era uma vez uma terra. A minha terra.
Na minha terra, os invernos eram frios e muitas vezes chuvosos, e os verões insuportavelmente quentes, tão quentes que eram notícia na tv.
O rio, outrora fonte de alimento e lazer, corria agora sujo e minguado, esquecido. Não chamava ninguém, mesmo quando o calor tornava os corpos sedentos. Sedentos, eles iam banhar-se para outras paragens... por vezes, acabavam por banhar-se nas mesmas águas, mais acima ou mais abaixo no rio... o mesmo rio, apenas embrulhado em papel bonito.
Ora, fartos de andar a cirandar à volta em busca de frescura e de embrulhos bonitos, os seres indígenas começaram a olhar para o que os rodeava. As ribeiras de águas limpas, as represas, os açudes... as nascentes, as fontes, que antes eram ponto de encontro, continuavam ali. Abandonadas, é certo... gritavam, silenciosas, com a inutilidade que lhes haviam imposto.
A serpentear pelos campos, também o canal de rega aspirava a mais que apenas ver passar a água... sonhava com mais protagonismo, com companhia, sentia-se capaz de mais.
A determinada altura, os astros alinharam-se, uma certa loucura veio instalar-se, e começaram a acontecer coisas bizarras.
Nesse inverno, a água das chuvas, descendo encosta abaixo por aquela terra, a minha, que se distribuía por montes, encostas e terminava numa planície a caminho do rio, a água das chuvas aproveitou ao passar por cima do canal, e deixou-se escorrer para lá. O canal estranhou, de início, mas depois soube-lhe bem aquela água cristalina, celeste, e pôs-se a magicar o que fazer com ela.
No canal, nas ribeiras e ribeiros, a água foi-se amontoando, e procurou amizade nos açudes, já meio ferrugentos e adormecidos, e nas represas, a quem haviam convencido de que eram pântanos lamacentos e cemitério de todo o tipo de despojos.
Foi apenas um inverno...indígenas loucos, águas de chuva decididas, nascentes aluminiadas, todos quiseram mostrar ao verão que podia vir... sim, poderia vir a escaldar, que o recebiam de braços abertos, cheios de utilidade e alegria...
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